Imagem: Envato
O dia 29 de janeiro é dedicado ao debate sobre visibilidade trans, para celebrar o orgulho, a existência, e promover a conscientização e a resistência da comunidade trans e travesti no Brasil. A data surgiu quando, em 2004, um grupo de ativistas trans se reuniu em frente ao Congresso Nacional para combater a transfobia no país. Nessa data, cabe debater sobre as principais dificuldades enfrentadas pela comunidade trans, e uma delas é a inserção no mercado de trabalho.
De acordo com relatório anual divulgado hoje pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 145 pessoas trans foram mortas em 2023, número que cresceu 10% em relação a 2022. A expectativa de vida deste grupo é de 35 anos no Brasil, considerado o país que mais mata pessoas trans do mundo. Quando falamos de trabalho, apenas 4% dessa comunidade está empregada no mercado de trabalho formal, enquanto 90% das mulheres trans precisou se submeter à prostituição como forma de geração de renda em algum momento. Ao mesmo tempo, apenas 1% da força de trabalho das empresas é trans.
Fernanda Prado dos Santos, advogada trabalhista e Presidente da Comissão de Direitos Sociais, governança e sustentabilidade ESG na Associação Brasileira de Advogados, comenta sobre as principais dificuldades enfrentadas pelas pessoas trans no mercado de trabalho:
“Um dos grandes problemas enfrentados por essa comunidade é a dificuldade de se inserir no mercado de trabalho formal, ligada a dois fatores: a evasão escolar e o preconceito. Sem o apoio da família e das instituições de ensino, muitos trans não conseguem concluir nem o ensino fundamental, o que acaba gerando problemas na colocação profissional. Outro ponto determinante, é a constante discriminação sofrida por parte da sociedade e também a violência física”, afirma a advogada.
Dentro do conceito de ESG (Environmental, Social and Governance) – uma das tendências nas empresas para 2024 – o social aborda as ações tomadas pela empresa para diminuir as desigualdades sociais existentes, o que abarca a inclusão dos grupos minoritários no mercado de trabalho, inclusive, de pessoas trans.
“É importante que as empresas invistam em ações afirmativas para a população trans, pois assim essas pessoas terão acesso pleno a direitos básicos como saúde, educação e trabalho sendo este o caminho para promover a equidade. Investindo nessas ações a empresa estará cumprindo sua função social. Não se trata de concessão de benefícios ou privilégios, mas da efetivação de direitos assegurados pela Constituição”, afirma Prado dos Santos.
Porém, começar a tomar atitudes é um processo difícil, que envolve uma busca ativa de eliminação de preconceitos que, muitas vezes, podem ser inconscientes. “[É preciso] trabalhar intensamente os vieses inconscientes para que seja eliminado o preconceito e assim se consiga engajar as demais equipes e setores da empresa”, comenta a advogada.
Nesse sentido, algumas empresas fazem a consultoria de outros negócios que querem começar a agir em prol da igualdade de gênero e da população trans. Entre elas, a Elu, do empresário Rafa Mores, busca fazer uma ponte entre vagas de emprego e talentos trans, como um tinder das vagas.
Além disso, grandes nomes como a Meta têm se engajado na inclusão de pessoas trans nas empresas. A gigante da tecnologia patrocinou e sediou o evento “Diversimatch” em São Paulo, voltado para a capacitação de empresas e de pessoas trans para o “match” no mercado de trabalho.
A advogada Fernanda Prado dos Santos exemplifica algumas ações que podem ser implementadas nas empresas: “Promover a capacitação dessa população para que eles possam desempenhar sua função e ascender profissionalmente, treinamentos e palestras educativas a respeito do tema para que as equipes entendam melhor e eliminem todo o tipo de preconceito são alguns exemplos de boas práticas a serem adotadas pelas empresas para manter esses empregados em seus quadros”, afirma.